O Prof Paulo Souza, Vice Presidente da Cerebrum University um dos precursores do Empreendedorismo Sênior no Brasil, concluiu por meio dos seus estudos, que a geração Baby Boomer, que são os nascidos entre 1946 e 1964, vieram com a característica de provocar mudanças. Na juventude, fizeram várias revoluções e agora, na maturidade, estão reinventando a forma de envelhecer. Na entrevista publicada pelo site fifities+ e reproduzida pelo site www.seniorsocial.com.br, é possível identificar esta tendência.
Se você está pensando em abrir um novo negócio saiba que você não está sozinho. Mais e mais pessoas estão descobrindo os desafios e as vantagens de empreender depois dos 50!
“Ao contrário do que se pensa popularmente, empreender não é exclusividade dos jovens”, foram com essas palavras que o vice-presidente da Fundação Kauffman, Dane Stangler, abriu seu depoimento no Comitê de Envelhecimento do Senado americano em 2014. Há três anos, Stangler já vislumbrava o que hoje mais e mais está se transformando em realidade: empreender depois dos 50 anos é um caminho sem volta para milhares de pessoas ao redor do planeta. Os fatores que contribuem para isso são muitos: aumento da longevidade, desemprego, aposentadoria ou mesmo realização pessoal estão entre eles. Os números impressionam. A pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) de 2015 registrou que 30% dos empreendedores em estágio inicial têm entre 45 e 64 anos. No caso de negócios já estabelecidos, esse número sobe para 59%.
Fomos entrevistar Rubens de Almeida, engenheiro e jornalista, empresário, investidor e empreendedor em empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação. Mais especificamente, um especialista em se redescobrir depois dos 50 anos.
Fifties +: qual a diferença entre uma empresa dirigida por pessoas maduras e por jovens empreendedores?
Rubens de Almeida: ambas são calcadas em criatividade e boas ideias. Mas, nas iniciativas capitaneadas por quem já passou dos 50, podemos contar com os relacionamentos e as experiências anteriores da vida profissional de cada um. No lugar da juventude, a experiência. Em vez de apenas entusiasmo pela inovação, a consciência de que é sempre preciso apresentar fórmulas consistentes e convincentes. Para substituir o ânimo, a velocidade e a vitalidade de superar com facilidade noites mal dormidas, a tranquilidade de pegar no telefone e sempre conhecer alguém que trabalha ou conhece aquele detalhe importante do negócio ou pode nos apresentar um dirigente de uma grande empresa ou um especialista com quem precisamos falar.
Uma coisa que perdemos ao longo de uma carreira profissional são as ilusões de que somos os melhores, que somos imprescindíveis e essenciais em qualquer situação. A vida nos ensinou que as oportunidades vêm e vão, que o sucesso pode ser passageiro e que não ha desgraça que dure para sempre. Sabemos que nada acontece se não nos mexermos e que não basta ter boas ideias e sermos brilhantes, se não as pusermos em prática.
Ou seja, vejo que a ousadia de empreender em uma idade madura poderia ser uma espécie de complemento às iniciativas dos mais jovens. Talvez até, pudéssemos mesclar os diferenciais competitivos de jovens e cinquentões.
Fifties +: empreender depois dos 50 vai ser a única alternativa para essa legião de boomers (pessoas nascidas entre 1946 e 1964) que estão se aposentando antes de se sentirem prontos para parar de trabalhar?
Rubens de Almeida: acho que o problema é mais sério do que ter ou não vontade de parar. Primeiro que a lógica da aposentadoria fazia sentido para uma sociedade cuja expectativa de vida com qualidade não superava os 60 ou 65 anos. Chegamos ao novo milênio com uma população que resiste muito mais anos e começa a colocar em xeque os cálculos atuariais da aposentadoria em todos os países. Não há e não haverá recursos dentro da própria sociedade para pagar vencimentos para os mais velhos por tantos anos a fio, sem que eles também contribuam para a geração das riquezas. Então, parar de trabalhar era um sonho de funcionários públicos ou trabalhadores bem remunerados em empresas privadas que esperavam o dia da aposentadoria para se libertar do trabalho que eles não gostavam de fazer.
Fifities+: mas a diferença entre as pessoas mais velhas de hoje e de anos atrás não passa apenas por uma expectativa maior de vida, certo?
Rubens de Almeida: com certeza. Em grande parte, os boomers – em se falando de classe média – viveram e têm acessos a todas as transformações tecnológicas do mundo do trabalho. E permanecem ativos, cutucados que são pelas redes sociais, pela instantaneidade dos contatos, pelo deslumbramento com os aparelhos e possibilidades que no início de nossas carreiras só podíamos enxergar nos desenhos dos Jetsons. Ainda não nos deslocamos pelo ar, mas todo o resto daqueles devaneios futurísticos estão por aí. Agora que ficou divertido querem que eu pare? É claro que sempre haverá exceções e até entre os jovens há aqueles que não gostam de tecnologia. Mas, para quem de alguma forma introduziu tecnologias no mundo de trabalho em suas especialidades, não há como largar o osso, na hora que chegamos ao tutano.
Fifities+: qual é o erro mais provável na hora de montar uma nova empresa?
Rubens de Almeida: acho que o maior erro ao montar uma empresa é não fazer uma boa avaliação do mercado e do porque a sua iniciativa pode ser diferente e alavancar clientes. Ou seja, o importante é entender o seu próprio diferencial, o que você acrescenta aos negócios e que ninguém pode tirar de você. Outro ponto importante diz respeito a olhar o mercado e perceber, primeiro se não há gente oferecendo exatamente o que você pretendia fazer e, segundo, se o mercado consegue entender o que você está oferecendo. Eu mesmo já tive a oportunidade de tentar negócios que só depois de muitos anos o mercado passou a assimilar. É comum – entre as pessoas animadas com a suas próprias ideias – achar que todos vão compreender ou estão precisando o que você está oferecendo.
Fifities+: quais os conselhos que você daria para quem quiser se lançar num projeto desses?
Rubens de Almeida: o principal conselho é não apenas estruturar as suas boas ideias, mas fazer contas, montar uma planilha que você possa comparar o quanto de tempo está investindo em um negócio e verificar se há margens suficientes para ele remunerar você. Geralmente é uma conta simples, mas as pessoas que estão animadas em fazer um novo negócio simplesmente não se lembram de fazer o cálculo de quanto vão ganhar, em cima do que vão gastar para trabalhar. Nessa conta, tem que calcular o preço do seu tempo, quanto custa a sua hora de trabalho. E considerá-lo como um dos custos do serviço ou do produto que você está colocando no mercado. Se você mirar apenas no lucro da operação, vai esquecer que você teve que trabalhar de graça para ganhar aquele lucro.
Fifities+: qual o discurso que você usava quando começou a montar sua empresa?
Rubens de Almeida: no meu caso particular, não monto apenas uma empresa ou compro uma franquia para servir café para o resto da vida, ainda que seja com aquelas maravilhosas máquinas que antes só existiam na Itália. Não! Monto empresas, crio tecnologias, reúno potenciais sócios e coloco-as para rodar todos os dias! É uma diversão porque podemos brincar até com aspectos negativos, por exemplo, dizendo para os investidores que ou eles fazem o investimento logo, ou poderão perder o seu sócio e suas boas ideias simplesmente porque ele morreu!
Mas é muito mais que isso. Ser uma empresa formada por gente mais madura é não acreditar que o fim precisa ser “pra baixo”, reduzido ao pijama, ao esquecimento de uma casa de repouso ou à cadeira de balanço. Porque não terminar a vida no auge? E os exemplos são muito bons: o jornalista Roberto Marinho fez um monte de coisas legais na vida, mas só se tornou uma lenda quando aos 60 anos criou a rede globo. Com o Steve Jobs, a retomada da Apple também aconteceu após os 50. Então, por que não pensarmos e realizar ou demonstrar o nosso legado no final da vida?
Esta matéria é exclusiva e foi produzida pelo site FifitiesMais, sendo o conteúdo de sua inteira responsabilidade.
Fonte: https://www.seniorsocial.com.br/single-post/empreender-na-maturidade